segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Café Central

Já devem ter, por certo, reparado que qualquer aldeia, lugarejo ou pequeno povoado que se preze tem um café que é o centro de reunião das pessoas desse sítio, o centro da vida social desse lugar e que, invariavelmente, tem o nome de "Café Central".

Ora, no passado sábado tive o prazer de visitar, a convite de um amigo, um "Café Central".
Curiosamente, comprovei aquilo que escrevi acima. Esse café é mesmo central! É o centro de reunião das pessoas desse sítio, o centro da vida social desse lugar. Aí vi homens, mulheres e crianças, vi gente a beber cerveja ou um “copo de três” bem espumoso, servido em copo de cerveja. Vi gente a discutir que o “não-sei-quantos está bêbado e está a falar alto”, vi o tal "não-sei-quantos" a sair e a dizer em altos berros que não voltava a beber lá mais na vida, para regressar 10 minutos depois e pedir outro copo de tinto. Vi a dificuldade com que crianças pequenas agarravam em tacos de bilhar e tentavam mostrar (com os olhos brilhantes de entusiasmo) aos adultos que também já sabiam jogar bilhar e vi outras a jogarem o Monopólio como se fossem grandes magnatas. Vi raparigas de 14 ou 15 anos, vestidas como se já tivessem 24 ou 25, a tentarem dar ares de adultas e a deixarem alguns velhotes no café com “os calores”. Vi homens de cabeça no ar a olhar para a SportTV (era um Braga-Leixões) enquanto deitavam um olho aos jornais e desfiavam um rol de “sábias” críticas ao governo, ao estado do país e aos baixos ordenados que uns tem, em relação a “outros que não fazem nenhum e se governam e enchem o bandulho”. Vi famílias inteiras sentadas à mesa, a petiscar e conversar e gente a entrar só para beber um café e dar "duas de treta"…

Olhava em volta e sentia vontade de pertencer a este grupo, ao grupo dos que chegam a um café e são cumprimentados pelos amigos, dos que são tratados pelo dono do café por um nome ou alcunha, dos que são saudados como se não se vissem há anos, apesar de trabalharem todos juntos…

Pouco depois, lá estava eu, de dentes cravados num belo naco de bolo com sardinhas, acompanhado de um caldo verde e uma cerveja, a pensar o que seria destes recônditos lugares (a menos de meia dúzia de quilómetros de uma sede de concelho), tão longe de tudo e tão perto de nada, sem "Cafés Centrais" como este.
Deixariam de ter tanta vida, de certeza...

2 Comments:

Blogger Rui Osório said...

Bom Texto caro sicgloriatransitmundi. E por acaso como profissionalmente faço muito quilómetros, já tinha reparado que existem mil e um cafés central e até já tinha falado nesse facto.
Acho que é um bocado do Portugal de antigamente, e o espírito que relatas aí é cada vez mais raro, é o preço da modernidade, dizem alguns...

8:32 da tarde  
Blogger SicGloriaTransitMundi said...

Caro Pantic:

O que é mais curioso é que dia a dia mais se vê que todos nós gostamos é desse género de ambientes, familiares, amigos, aconchegantes e tradicionais!

Pode ser que a modernidade, aliada a valores e tradições nos traga de novo tudo isto, mas actualizado!

3:24 da tarde  

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