Nota prévia: Este texto foi escrito por mim em 2002, pouco depois da eliminação da nossa Selecção do Mundial 2002, realizado na Coreia e Japão. Encontrei-o recentemente, quando fazia arrumações de Natal nos meus arquivos pessoais. E como achei que estamos em tempo de balanços, comparações e análises...
De facto, esta parece-me ser a melhor palavra para definir, não só todo o mundial de futebol (que ainda não terminou), bem como a participação de Portugal no mesmo.
Mas, vamos por partes. Em primeiro lugar, pareceu-me um pouco “foleira” a escolha de dois países, ainda para mais asiáticos, sem qualquer expressão a nível futebolístico, seja ao nível de campeonatos nacionais, seja ao nível de participações em Mundiais. Não quero aqui criticar a organização, que até à data parecer ter sido dentro daquilo que se esperava, tendo em conta que são dois os países organizadores, e não um. O que contesto é a escolha dos países em si. Os asiáticos nunca me pareceram grandes apreciadores de futebol. Basta ver que, a nível desportivo, dão cartas ao nível de outros desportos de cariz mais olímpico, mas futebol, nem vê-lo! Talvez por estarem longe e o fuso horário ser diferente...
Ora aqui está mais outra “foleirice” deste Mundial de futebol: o fuso horário! Como é possível escolher para organizadores deste Campeonato países com fuso horário tão diferente do europeu?...Não é provincianismo, mas já pensaram que os europeus são quem dá “cartas” e quem é importante a nível destas coisas? Se formos a ver, as empresas europeias ainda são as mais importantes e foram (e estão a ser) as mais penalizadas neste aspecto...Basta ver que poucos são os europeus que, aqui na Europa, assistiram e assistem aos jogos em directo...Sem assistência não há publicidade, sem publicidade não há dinheiro, sem dinheiro não há futebóis (e agora que selecções como a França, a Argentina e a nossa foram eliminadas, muito menor será o número de espectadores...)! Já para não falar no facto de que as tradicionais, pesadas e bem regadas jantaradas para “ver o jogo” foram substituídas pelos leves almoços de trabalho. Quem se lixa são os restaurantes...e as adegas cooperativas! Ainda temos o facto de, em certos dias e certas alturas do dia, algumas empresas terem de enfrentar o problema de estarem quase paradas porque os funcionários, ou pararam para ver o jogo, ou não puderam vir trabalhar por estarem retidos em casa com “futebolite” aguda!...Enfim, “foleirices”...
Passemos agora a outra das razões que me levaram a apelidar este Mundial de “foleiro”, que são as cadeias de televisão em Portugal. Como é do conhecimento geral, quem transmite os jogos deste Mundial é a SportTV (cuja programação habitual já de si é “foleira”), que assim tem dois Oliveiras no Mundial: um cá colado ao negócio, outro lá, colado às quatro linhas...e às muletas! Já que falo nisso, parece-me que a verdadeira razão para o seleccionador estar de muletas é estratégica! Perdemos com os EUA e teve uma visão (como muitas vezes tem acontecido!) apocalíptica e, para se livrar da futura e previsível ira dos adeptos, arranjou umas muletas...é que ninguém tem coragem de bater em doentes ou incapacitados...
Voltando à “foleirice” das televisões; quem já teve hipótese de fazer um zapping por todos os canais, deve ter reparado que à falta de jogos em directo, todos (ou quase) arranjaram programas em directo, seja em estúdio, seja no Parque das Nações (já que se gastou dinheiro na Expo, há que pôr aquilo a render!)...O mais deprimente de tudo isto é que os programas em si são como as laranjas pequenas (não me refiro aqui aos jovens apoiantes do PC – “Partido do Cherne”): por mais que se espremam fica apenas um bocadito de sumo no fundo do copo. Além disso, são chatos e compridos, como o peixe espada (já que falamos em peixe...); qual é o interesse de ficar até às tantas da manhã a ver tipos que deixaram o futebol há alguns anos a falarem do seu passado??? Só se for para nos ajudar a dormir...
Em relação a estes programas, há a “foleirice” de porem, no canal do estado, um apresentador de telejornais a apresentar um programa eminentemente desportivo, enquanto que num dos canais privados, a “foleirice” chega ao ponto de termos enviados especiais, que são jornalistas desportivos, a fazer reportagens sobre a vida na Coreia, a vida dos portugueses na Coreia, a vida dos cozinheiros da selecção portuguesa na Coreia...Bem fez o “Estebes” que, para não ficar atrás, entrevistou uma massagista coreana que prestava assistência à equipa (Ana Bola) e uma empregada que fazia as camas dos jogadores (Joaquim Monchique)...Ainda assim foram pouco diferentes, mas mais originais...
O troféu da maior “foleirice” vai, contudo, para...a nossa Selecção (sim, que apesar de a criticar também sou português! Somos cada vez menos, mas somos cada vez melhores...é a lei do apuramento da raça, que o apuramento da nossa selecção “já era”!!!), para o seleccionador e tudo à volta...Eu explico. A “foleirice” começou com a escolha do seleccionador, dono de um currículo um pouco “foleiro”, já para não falar do seu “foleiro” bigode, tal como o do Artur Jorge...Mas esse era um “sinhor”...Até lia poesia! Poesia essa que faltou na escolha e direcção dos jogadores, sem a introdução de “sangue novo” (por este andar, de tanto usar o velho, dentro em pouco, nem o Instituto Português do Sangue lhes vale...), passando pela “foleirice” dos equipamentos, que de original e diferente só tem a cor, já que o do Brasil é igual ao nosso (valha-nos a consolação de sermos o país onde foram fabricados os equipamentos de uma grande parte das selecções...Ora cá está o portuga a contentar-se com vitórias morais!!!)...
Por falar em portuga, não podia deixar de esquecer o nome com o qual foi alcunhada a nossa selecção. O nome “tuga” é triste, é lamentável, é deprimente (lembra o nosso grande passado colonial, as alcunhas com que éramos conhecidos e as anedotas que de nós se contam!), é mau, é...pequenino!...Como dizia uma vez Miguel Esteves Cardoso, Portugal sofre da praga da “gracinha”, o que é giro é ser pequenino, lindinho, engraçadinho, servir tudo num pratinho, de preferência lombinhos, com batatinhas, acompanhados por um pãozinho com uma manteiguinha e azeitoninhas, vinhinho e cafezinho...Deixem de ser pequeninos e “foleiros” e preocupem-se com o que é importante...Bolas!!!...E por falar nisso, até 2004...Se não for antes...
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